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Essa é a minha historia. Prazer, Vó Chica.

  • Foto do escritor: William Santos
    William Santos
  • há 2 horas
  • 2 min de leitura

Arte produzida por William Santos
Arte produzida por William Santos

Era uma manhã de domingo. Como de costume, arrumei-me e fui à missa. Na igreja, havia uma imagem de São Judas Tadeu: simples e marcada por diversas patologias. Encontrei naquela simplicidade um sentimento de conforto e aconchego e, logo, comecei a fazer minhas preces. Estava ajoelhada no chão de terra, com os olhos cheios de lágrimas, pois os negros não tinham direitos garantidos.

A sinhá que me acompanhava era uma moça simples, de coração muito bom. Tratava-me com respeito e sempre encontrava uma forma de me agradar. Naquele domingo, percebeu que eu observava atentamente a imagem de São Judas Tadeu e sussurrou em meu ouvido, de maneira discreta:

— Vossa mercê, percebi que você admira a imagem de São Judas Tadeu. Em minha casa há uma parecida, mas encontra-se em estado de calamidade.

Confesso que não compreendi bem aquele discurso, visto que os negros eram escravizados e não tinham acesso ao estudo. Ao término da missa, a sinhá foi embora caminhando comigo, enquanto, à distância, seu esposo nos observava. Ele era um homem extremamente violento: matou familiares meus e diversos amigos. Recordo-me de que a sinhá também sofria em suas mãos, sendo constantemente violentada e forçada a manter relações em momentos de humilhação.

Ao chegarmos em casa, a sinhá entregou-me a imagem. Havia alguns cupins caminhando por ela, mas, ainda assim, agradeci e a guardei entre meus pertences. Ao longo daquele dia, presenciei cenas que me feriram profundamente: a sinhá sendo violentada pelo esposo e os negros submetidos à crueldade dos feitores. Eu apenas desejava que aquele dia chegasse ao fim.

Naquela noite, arrumei meu leito. A sinhá não apareceu, como de costume, mas eu ouvia seu choro. Os quartos dos escravos ficavam dentro da casa, próximos ao dela. Peguei a imagem de São Judas Tadeu para rezar, quando, de repente, ouvi um estrondo. Vi uma fumaça espessa e perdi os sentidos.

A casa havia desmoronado, e ninguém conseguia entender o motivo, já que a estrutura não apresentava indícios de fragilidade. Ao acordar, ouvi gritos e o ranger de dentes. Enxergava apenas escuridão, até que uma luz surgiu. Era a imagem de São Judas Tadeu ao meu lado, completamente intacta. Um moço apareceu e retirou os entulhos que me cobriam. Carregou-me nos braços, ofereceu-me um chá de arruda e alecrim e passou ervas em meus ferimentos. Chamava-se Joaquim.

Confesso que me senti protegida. Era um homem forte e, ao mesmo tempo, sensível. Trazia consigo um cachimbo, que havia confeccionado aos doze anos de idade. Ao começar a fumar o pito, disse-me que eu tivera muita sorte, pois, onde eu estava, havia algo brilhante. Nesse momento, comecei a chorar: o machado de São Judas Tadeu reluzia enquanto eu permanecia sob os escombros. Naquela tragédia, apenas duas pessoas sobreviveram: eu e Joaquim.

Chamo-me Chica. Atualmente, vivo em um lugar diferente, onde as pessoas convivem em harmonia. É um lugar de paz, onde não há vaidade, pois todos compreendem o verdadeiro sentido da vida. A caridade é essencial para uma existência plena e, por isso, junto com meus amigos, sempre compartilho um conselho simples, mas capaz de transformar vidas.


Jornalista: William Santos

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