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Silvio Santos Vem Aí! O Rei dos Domingos

  • Foto do escritor: William Santos
    William Santos
  • há 7 horas
  • 5 min de leitura

Imagem construída por inteligência artificial a partir de descrição elaborada por William Santos.
Imagem construída por inteligência artificial a partir de descrição elaborada por William Santos.

À medida que o ano chega ao fim, torna-se inevitável refletir sobre a morte de Silvio Santos, uma das figuras mais icônicas da televisão brasileira. O apresentador faleceu em 17 de agosto de 2024, aos 93 anos, em São Paulo, vítima de broncopneumonia decorrente de uma infecção por influenza A (H1N1). Um ano e dois meses após sua partida, sua ausência ainda se faz sentir, como se uma parte significativa da história da televisão brasileira tivesse partido com ele.

Aos domingos, minha tia-avó Odete, Angelito e eu costumávamos nos reunir em frente à televisão. O início do programa era anunciado por uma música inconfundível, conhecida por todos: “Silvio Santos vem aí! Olê! Olê! Olá!”. O jingle era o sinal de que o domingo estava completo. Muitas vezes, Silvio dividia o palco com grandes nomes da televisão brasileira, como Gugu Liberato, Eliana e Celso Portiolli. Como esquecer Silvio Santos, o verdadeiro rei da TV brasileira?

Nascido Senor Abravanel, em 12 de dezembro de 1930, no Rio de Janeiro, Silvio Santos era filho de imigrantes judeus sefarditas, oriundos de uma família de classe média, com ascendência grega e turca. Descendia de Judah Abravanel e de Don Isaac Abravanel, figuras historicamente ligadas à administração e à cultura ibérica. Desde cedo, demonstrou vocação para o empreendedorismo. Aos 14 anos, iniciou sua trajetória profissional vendendo capinhas plásticas para títulos de eleitor durante as eleições de 1946, ao lado do irmão Leon, dando início a uma notável carreira no mundo dos negócios.

Com sua voz marcante de vendedor ambulante, chegou a realizar um teste na Rádio Guanabara, mas os baixos salários não lhe permitiram abandonar a vida de camelô. Aos 18 anos, passou a operar um serviço de alto-falantes nas barcas de Niterói. Aos 20, mudou-se para São Paulo, onde passou a apresentar espetáculos e sorteios. Na Rádio Nacional, conheceu Manoel de Nóbrega, então responsável pelo Baú da Felicidade. Ao assumir o empreendimento, Silvio o transformou, em 1962, no Grupo Silvio Santos, que se expandiu para diversos setores, como brinquedos, eletrodomésticos, automóveis e imóveis. Em 1969, o grupo criou o Banco PanAmericano.

Reconhecido como o “Rei da TV brasileira”, Silvio Santos consolidou o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) como uma das principais redes do país. Criada em 1981 a partir das concessões da extinta Rede Tupi — após o início das atividades como TVS no Rio de Janeiro —, a emissora alcançou projeção nacional e passou a disputar com a Record o posto de segunda maior emissora de televisão aberta do Brasil. Entre seus produtos de maior sucesso destacou-se a Tele Sena, amplamente divulgada nos programas e nos intervalos comerciais da emissora.

Além do SBT e da Tele Sena, Silvio diversificou seus negócios por meio da Sisan Empreendimentos Imobiliários, responsável por seus investimentos no setor imobiliário. Também foi proprietário da TV Alphaville, empresa de televisão por assinatura em São Paulo, vendida à Brasil TecPar em 2023. O Grupo Silvio Santos ainda detém o Sofitel Jequitimar Guarujá, hotel de luxo inaugurado em 2006, com 301 quartos e 22 suítes.

Para além da televisão e da administração empresarial, Silvio Santos também deixou sua marca no universo musical. O jingle “Silvio Santos vem aí”, criado em 1965 por Archimedes Messina a pedido do próprio apresentador, atravessou mais de seis décadas na memória popular. Ao longo da carreira, lançou quatro álbuns, como Silvio Santos e suas Colegas de Trabalho (1974) e Silvio Santos (1994), além de singles infantis e participações em coletâneas carnavalescas, destacando-se em marchas como “A Pipa do Vovô” e “Transplante do Corintiano”.

Não há como falar de Silvio Santos sem mencionar uma de suas marcas registradas: a interação direta com o público e a presença constante de mulheres no auditório. Desde a estreia do Programa Silvio Santos, em 2 de junho de 1963, o apresentador passou por diversas emissoras — Rede Globo, TV Tupi, TV Paulista e Rede Record — até consolidar definitivamente sua trajetória em sua própria emissora. Mais do que um empresário bem-sucedido, Silvio destacou-se por transformar a concorrência em estímulo, e não em obstáculo.

A televisão brasileira entrou em luto com sua morte. Conforme seu desejo, o corpo foi sepultado em cerimônia judaica, sem velório, no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, na manhã de 18 de agosto de 2024. No fim de semana de sua partida, inúmeras homenagens foram exibidas na televisão, embora nenhuma delas seja capaz de preencher o vazio deixado por um dos maiores comunicadores da história do país.

É estranho pensar que nunca mais veremos Silvio Santos aos domingos, com seu sorriso contagiante. Permanecem, no entanto, as lembranças dos momentos compartilhados em família, como aqueles vividos ao lado de minha tia-avó Odete e Angelito. Silvio Santos não foi apenas um apresentador; foi parte da história e da cultura de várias gerações. Sua ausência será profundamente sentida, mas seu legado permanecerá vivo na memória coletiva e na história da televisão brasileira.

Após pouco mais de um ano de sua morte, suas filhas buscaram formas de homenagear o pai e fortalecer o legado construído ao longo de décadas, entre elas a inauguração do SBT News, canal de notícias 24 horas da emissora. Nesse contexto, o cantor Zezé Di Camargo envolveu-se em uma polêmica ao fazer uma declaração considerada infeliz.

A controvérsia teve início quando o sertanejo publicou um vídeo criticando o SBT por convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o lançamento do canal. Na gravação, afirmou que as filhas de Silvio Santos estariam “se prostituindo” e chegou a solicitar o cancelamento de seu tradicional especial de Natal exibido pela emissora.

A declaração gerou forte repercussão negativa nas redes sociais e no meio artístico. Diante do impacto, o SBT confirmou que o especial natalino de Zezé Di Camargo não seria exibido. Posteriormente, o cantor divulgou um pedido público de desculpas, reconhecendo o uso inadequado do termo e tentando minimizar os danos causados pela crise, que ainda reverbera no mercado televisivo.

O episódio também reacendeu o debate sobre o papel institucional das emissoras de televisão, que operam por meio de concessão pública, e sobre a tradição de Silvio Santos de dialogar com diferentes presidentes da República ao longo de sua trajetória. Durante a inauguração do SBT News, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva relembrou, inclusive, um encontro com Silvio em um dos momentos mais críticos de sua carreira empresarial: a fraude bilionária no então Banco PanAmericano. Em novembro de 2010, a instituição foi socorrida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para evitar sua liquidação pelo Banco Central. Posteriormente, o banco foi vendido ao BTG Pactual e, em 2018, sete executivos foram condenados por fraudes contábeis.

Silvio Santos sempre demonstrou sabedoria na condução de seus negócios, e suas filhas vêm seguindo sua visão estratégica e o desejo de manter o império construído ao longo de décadas. A gestão de uma emissora e de um conglomerado empresarial liderado por mulheres reforça a continuidade de seu legado.

Ao nos aproximarmos do fim de mais um ano — período que também remete a seu aniversário, que seria celebrado em 12 de dezembro de 2025, quando completaria 95 anos —, resta entoar o refrão que marcou gerações diante da telinha:

“Silvio Santos vem aí!Olê! Olê! Olá!Silvio Santos vem aí!Olê! Até o programa acabar!”


Jornalista: William Santos

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